sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O que dizer?

Reli tudo o que escrevi e pensei sobre o que escrever hoje. Já fui andar na praia, ou melhor, no calçadão ao lado da praia. O mar tomou o lugar da areia, então não está sendo possível caminhar olhando o mar bem de perto.
O dia está nublado. O sol não quis dar a graça. Estou naquele estado do país onde a calamidade se instalou. Durante dias só falamos da chuva. Ela era nossa companheira constante. Agora ela está dando algumas oportunidades para o sol, mas mesmo assim, qualquer pingo acelera o coração.
Não vi tudo aquilo de perto. Não vi a inundação, o morro descendo levando casas, coisas, sonhos e vidas. Ao mesmo tempo estava aqui perto, em um dos lugares seguros.
Fiquei pensando hoje no que escrever aqui e esse assunto veio em mim. Um minuto para mudar a nossa vida, a nossa história. Acreditamos que estamos seguros, querendo controlar as situações e de repente, não mais que de repente, algo acontece e muda tudo. Coisas que eram de uma importância vital deixam de ser. Pessoas que não conhecemos passam a ser as únicas com quem podemos contar. Não temos tempo nem de dizer adeus para alguém que guardamos nosso amor para um momento melhor de vida.
Entramos na estrada e acreditamos que sabemos o caminho. Então vem uma barreira, a montanha desce e toma o lugar. Pegamos desvios. O caminho muda. Nossos valores mudam também. Alguns irão continuar a escrever as suas histórias. Outros colocaram um ponto final na sua.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Melhorando a visão

Quando olhamos um quadro muito de perto, não conseguimos enxergar o total, as vezes a figura não se forma, mas damos uma distância e ele se revela. Hoje pensei na vida assim. As vezes precisamos dar uma distância dos acontecimentos, do nosso cotidiano, da nossa vida para podermos ver o quadro melhor.
Talvez se temporariamente dissermos não sei o que fazer, vou pensar, vou dar uma volta, suar bastante e na volta conversamos. Com certeza na volta nossa visão estará mais clara. A raiva terá passado. Mas as vezes insistimos em não sair do lugar até que tenhamos falado tudo, resolvido tudo, colocado tudo o que não dissemos antes. Geralmente não resolvemos nada e saimos pior do que entramos.
Dar a distância para ver faz mudar o quadro e muitas vezes temos medo das mudanças. Melhor ficar no sofrimento conhecido, porque nele conhecemos quem somos, ou melhor conhecemos nossas maneiras de sofrer.
Mudar pode trazer um sofrimento novo, desconhecido, mas também pode trazer alegria, entusiasmo e principalmente uma nova visão de nós mesmos e do quadro da nossa vida. Podemos resolver continuar com o mesmo quadro, mas percebemos que precisamos tirar o pó dele, restaurar as cores ou mudar a moldura.
Eu li que a ação combate o medo. Estou ensaiando para fazer um telefone há dias e o medo de fazer esse telefonema foi aumentando. Hoje acordei e liguei. Acabou, passou. Estou livre.
Dar o primeiro passo para trás para olhar o quadro da nossa vida requer uma ação. Essa ação é fundamental para combater o medo de olhar, avaliar e mudar.

sábado, 22 de novembro de 2008

Empatia

Estou na praia. É sábado e está chovendo muito. Uma semana de chuva. Encontro as pessoas e todas falam da chuva. Ela é o assunto principal. Claro que acordo irritada. Queria ir andar, tomar sol e se possível entrar no mar. Aproveitar o dia. Estou muito frustrada com essa chuva.
Enquanto faço o café, eu olho pela janela e a chuva me irrita mais ainda, mas de repente lembro do homem que aluga cadeiras e guarda-sóis na praia. Depois lembro da mulher que passa vendendo cangas, vestidinhos de praia. Depois lembro que estou em uma cidade de praia que vive de turismo. Hoje nenhum deles vai ganhar nada. Sábado passado estava sol e a rua estava lotada de carros. Hoje apenas a chuva e o vento.
Minha frustração foi passando. Entendi o que o sol representa para algumas pessoas. Eles esperam essa época o ano todo. A cidade se prepara para receber pessoas. Para mim hoje o sol significaria apenas prazer, para eles trabalho.
Empatia, segundo o dicionário, é tendência para sentir o mesmo que outra pessoa. Se colocar no lugar de outra pessoa. Tenho percebido que quando consigo fazer isso, sempre fico melhor e resolvo melhor as coisas a minha volta.
Quando conversamos na maioria das vezes não escutamos o que o outro está falando. Ficamos só esperando a deixa para elaborar a nossa fala. O outro faz o mesmo. Não resolvemos nada. Não comunicamos nada.
O outro sofre e eu elaboro falas que nada ajudam. Eu sofro e não sou entendida. O outro não me escuta e fala coisas que não dizem nada para mim. Cada um sofrendo por estar absolutamente certo e não ser compreendido nos seus sentimentos.
Mas e se eu tentar ouvir o outro realmente e me colocar no seu lugar e entender seus sentimentos. Ah! Mas por que a outra pessoa não faz isso? Por que ela não se coloca no meu lugar e me entende? Bem, podemos então ficar assim. Esperando que o outro mude para resolver a situação. Eu tenho escolhido mudar a única pessoa que eu percebi que tenho poder sobre ela. Eu mesma. Só posso mudar a mim mesma. E eu quero viver bem e ser feliz. Então tenho deixado o orgulho de lado e procurado ter empatia pelas outras pessoas.
Lá fora, nesse exato instante em que escrevo aqui, o mundo está caindo. A chuva forma um rio na rua. Eu estou calma, tranquila. Minha frustração passou. Já pensei em outras formas de fazer meu dia ser alegre e feliz. Vou ler um livro, assistir um filme e brincar com minha filha.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Conchinha na internet

Depois de uma semana de chuva, o sol voltou a brilhar. Andei na praia e observei a vida acontecendo. Pessoas indo e vindo. O mar de uma cor azul . Andei, senti o sol no rosto, o corpo suou bastante levando embora o mofo de algumas depressões.
Pensei nas conchinhas que já colhi, mas não dividi. Resolvi então partilhar uma conchinha preciosa que esbarrou em mim. Entrei na internet. Fui nos meus e-mails. Li todas as notícias do dia. Depois resolvi ver como estava o meu orkut. Eu fiz e esqueci.
Resolvi entrar no orkut de conhecidos, parentes e lá encontrei minha conchinha. Uma foto dos meus avós que estão brilhando lá no céu. Saudade e um sentimento de voltar para casa. Encontrei outras fotos de família e em algumas estava eu. Encontrei comigo em outros tempos e senti ternura.
Por que estou dividindo isso? Porque talvez você esteja triste nesse momento, como eu estava quando encontrei esses pequenos tesouros. Eles me fizeram lembrar de algumas pessoas que hoje estão longe de mim, mas que sempre farão parte da minha história.
Na correria dos dias, já estamos quase no natal novamente, vamos ficando presos em tantas coisas, obrigações, contas que esquecemos de lembrar que todos os dias estamos escrevendo a nossa história.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Voltar a ser criança

Ontem fui com minha filha nas dunas. Alugamos uma pranchinha e descemos a montanha de areia. Sujas de areia riamos felizes. Observei os rostos em volta. Pais meninos, mães meninas e filhos felizes. Todos alegres sorrindo e dando gritos de felicidade.
Acho que quando nos misturamos com a natureza voltamos a ser crianças. Não importa mais a sujeira, formalidades, nada. Nas areias que entravam pelos poros, pelos bolsos, pelos olhos todos éramos crianças e tudo tão simples.
Na praia um carrinho corre comandado por outro pai menino e o filho contente corre com o carrinho. Uma criança de roupa corre para o mar gelado e a mãe menina ri. Não importa a roupa molhada, mas aquele riso aberto da criança que se diverte com quase nada, ou melhor, com tudo.
Dezenas de homens meninos jogam bola e esquecem da vida lá fora. Nada importa naquele precioso momento, apenas o encontro com a bola e com a criança guardada no peito.
Mulheres meninas também se divertem com a bola e deixam para trás as preocupações com pernas, bundas e celulite. Não estão expondo corpos, mas mostrando a alma. Então podem rir e ser, como crianças.
Talvez junto da natureza, da qual fazemos parte, esquecemos o que julgamos ser importante e vivemos o que é importante. Na natureza deixamos nossa criança guardada sair e se divertir. Tudo é possível. Nada é feio ou ridiculo.
O espírito volta agradecido e já podemos continuar por mais um tempo com todas as obrigações e necessidades que acreditamos necessárias para a nossa felicidade.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Obrigações

Fiquei vários dias sem aparecer aqui. Erro fatal para um blog. Todos os dias deve se escrever em um blog. Bem, não tive vontade de escrever. Não queria falar nada, então não escrevi. Mas claro que todos os dias eu pensava que precisava escrever e tomei isso como uma obrigação não cumprida e gerou culpa.
Por que tantas obrigações? Quem determina que uma coisa é obrigatória? Quem são essas pessoas que não vejo a face, mas que determinam tantas coisas em nossa vida?
Hoje o mar estava com nevoeiro, então não dava para ver o que havia depois de uma certa faixa dele. Não dava para ver aquela linha do horizonte. Ele estava misterioso. As ondas que batiam na praia batiam fazendo um som de raiva, forte, alto. Parecia que ele queria gritar.
O que teria além daquela névoa?
Lembrei dos monstros marinhos ou um grande navio pirata. Mistério. Aos poucos, sem nenhuma pressa ou obrigação de me responder a névoa foi indo embora e mostrando uma ilha, pássaros voando, um pequeno barco e surgindo ao longe a linha do horizonte. As ondas foram diminuindo o barulho e batiam mansamente na praia, produzindo um som de paz.
Hoje eu tinha algo para contar, então eu vim aqui. Sem obrigação eu vim dividir com você esse momento mágico.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Detalhes

" Percebi que você caminha, mas também desfruta disso. Não é uma corrida. Não precisa ser uma corrida", disse uma mulher para mim com um enorme sorriso e vestindo uma camiseta Amigos da Tuga, enquanto eu caminhava pela praia.
Sorrimos e cada uma seguiu seu caminho, desfrutando da sua caminhada. Fui andando sorrindo e pensando que não havia percebido que desfrutava do caminhar, mas era o que eu fazia, agora com mais intensidade, porque prestei atenção nisso.
O bater das ondas do mar, os pássaros voando no céu, conchas jogadas na praia, ninhos de barro em postes de luz, novamente um lindo vôo de um casal no céu e me vem a cabeça uma música. "Detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes para esquecer", cantava Roberto Carlos e observo esses detalhes que fazem o meu caminhar.
Mas prestamos realmente atenção nos detalhes ou andamos pela vida pisando neles, correndo em busca de uma medalha final. Olhando ao redor percebo eu e as pessoas correndo, sempre precisando, sem tempo para olhar, parar, conversar, perceber, sentir. Vamos correndo não sei em busca do que, para chegar onde, para obter, para ser, principalmente para ter.
Nessa corrida, vamos perdendo os detalhes, deixando para depois, para algum dia. Não percebemos o sol nascer e nem morrer. Não percebemos o vento passar e contar. Não perbemos o tempo andar e levar.
Ontem choveu e molhou o chão. As folhas cairam na calçada. Um pássaro morreu no mar. Alguém jogou uma garrafa na praia. Hoje o sol nasceu varrendo tudo, levando o ontem para um lugar que não volta mais. Detalhes tão pequenos que fazem a longa estrada.....

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vida de pescador

Pelo terceiro dia seguido vejo o sol nascer atrás das montanhas. O espetáculo é lindo! Quantas outras vezes isso aconteceu e eu nem percebi? Onde estava com a minha cabeça? Passamos pela vida com espetáculos acontecendo ao nosso redor e nem percebemos. Acho que por isso estamos todos sempre tão insatisfeitos.
Uma escritora falou que sonho de rico é vida de pescador. Deitar na rede e olhar o mar. Então fiquei observando as pessoas andando pela praia e percebi que temos muitos requisitos para realizar esse sonho. Não pode ser qualquer rede, talvez uma rede feita na Bahia ou então por algum estilista famoso. Depois essa rede não pode ser colocada em qualquer gancho. Uma linda varanda ao pé do morro ou de frente para o mar, sem nada para atrapalhar a vista que deve ser total do mar. Não podemos também deitar com qualquer roupa. Talvez uma roupa esportiva de alguma marca famosa, acompanhada do tênis ideal para caminhada ou corrida. Afinal antes de deitar na rede uma boa caminhada é necessária. Claro que com a roupa e calçados certos.
Os cabelos são um item separado. Como ficam rebeldes na praia. Talvez o melhor creme, com o melhor shampoo e visitas ao cabeleireiro mais frequentes possam dar aquele cabelo que anda ao vento, brilhando como raios solares.
Com todos os requisitos preenchidos podemos finalmente deitar na rede e viver como pescadores. Pegar peixe nem pensar. Só queremos a rede olhando para o mar e então poderemos relaxar e apreciar todos os espetáculos da natureza.
Ah! Esqueci do laptop. Sem ele o visual não estará completo.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Podemos mudar?

Andava na praia e procurava aquela que seria minha conchinha do dia. Fui olhando o sol fazendo luzes na água do mar e pensei se podemos realmente mudar? Lembrei de pessoas que percebi mudando ultimamente. E pensei que parece que ficamos mais ricos como pessoas quando revemos posições, quando fazemos coisas diferentes do modo como estamos acostumados a fazer.
Achei que esse assunto seria a minha conchinha, mas no meu caminho surgiu uma tartaruga. Vim andando e percebi uma enorme tartaruga. Pensei que ela devia estar botando ovos, como eu já tinha visto outra fazer, mas não. Aquela fez sua última viagem. Aquele era seu porto final.
Tartarugas vivem muitos anos e então fiquei imaginando por quais mares ela passou. Então ela me fez pensar em tempo e em morte. Pensamos que temos muito tempo para fazer o que queremos fazer e vamos vivendo fazendo o que não queremos fazer. Deixamos para outro dia dizer o quanto gostamos de alguém, talvez em um momento melhor.
Eu vi uma entrevista com um homem que está morrendo. Ele até escreveu um livro sobre isso. Ele sabe que vai morrer, então está fazendo tudo o que é importante para ele. Não há tempo para esperar. Mas todos vamos morrer, pode ser antes dele até. Então todos não temos muito tempo. Por que achamos que temos?
Fiquei pensando sobre isso e isso se juntou com o primeiro assunto sobre mudanças. Talvez essa seja a primeira mudança que preciso fazer. Deixar de deixar para depois o que eu quero fazer.
Quando eu chegar no meu porto final quero ser com a tartaruga e já ter andado por muitos mares, ter vivido muitas histórias. E você?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Catando conchinhas

"Escrever é catar conchinhas", disse o escritor Rubens Alves. Não o conheço pessoalmente, mas o considero amigo, porque suas palavras me encantam. Deixei de catar conchinhas e comecei a procurar arcas de tesouros. Conheci a depressão, a insatisfação e a tristeza.
Voltei a catar minhas conchinhas e minha alma agradecida está alegre. Cada conchinha contém uma história e encerra em si um tesouro. Hoje peguei minha primeira, aquela que chamou a atenção de meus olhos. Era branca com um enorme buraco no meio e uma mancha marrom, também enorme. Pensei nela como uma pessoa com muitos anos de vida, carregando na sua face as feridas que o viver trouxe. Percebi uma pessoa única, diferente de todas as outras, nem melhor, nem pior. Apenas uma pessoa construindo a sua história. Talvez tenha amado, talvez tenha sido correspondida. Talvez não. Talvez tenha tido sonhos realizados. Talvez não. Não posso saber, ninguém contou a sua história, porque afinal era apenas uma pessoa, uma conchinha. Não era um tesouro.
A minha conchinha está aqui ainda. Ela ainda tem uma história para continuar a viver. Vou devolver ela para o mar, depois que ela me contar a sua história, que depois divido com você. Quero conhecer outras conchinhas e também contar as suas histórias. Espero que você divida suas conchinhas comigo.