terça-feira, 19 de agosto de 2008

Obrigações

Fiquei vários dias sem aparecer aqui. Erro fatal para um blog. Todos os dias deve se escrever em um blog. Bem, não tive vontade de escrever. Não queria falar nada, então não escrevi. Mas claro que todos os dias eu pensava que precisava escrever e tomei isso como uma obrigação não cumprida e gerou culpa.
Por que tantas obrigações? Quem determina que uma coisa é obrigatória? Quem são essas pessoas que não vejo a face, mas que determinam tantas coisas em nossa vida?
Hoje o mar estava com nevoeiro, então não dava para ver o que havia depois de uma certa faixa dele. Não dava para ver aquela linha do horizonte. Ele estava misterioso. As ondas que batiam na praia batiam fazendo um som de raiva, forte, alto. Parecia que ele queria gritar.
O que teria além daquela névoa?
Lembrei dos monstros marinhos ou um grande navio pirata. Mistério. Aos poucos, sem nenhuma pressa ou obrigação de me responder a névoa foi indo embora e mostrando uma ilha, pássaros voando, um pequeno barco e surgindo ao longe a linha do horizonte. As ondas foram diminuindo o barulho e batiam mansamente na praia, produzindo um som de paz.
Hoje eu tinha algo para contar, então eu vim aqui. Sem obrigação eu vim dividir com você esse momento mágico.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Detalhes

" Percebi que você caminha, mas também desfruta disso. Não é uma corrida. Não precisa ser uma corrida", disse uma mulher para mim com um enorme sorriso e vestindo uma camiseta Amigos da Tuga, enquanto eu caminhava pela praia.
Sorrimos e cada uma seguiu seu caminho, desfrutando da sua caminhada. Fui andando sorrindo e pensando que não havia percebido que desfrutava do caminhar, mas era o que eu fazia, agora com mais intensidade, porque prestei atenção nisso.
O bater das ondas do mar, os pássaros voando no céu, conchas jogadas na praia, ninhos de barro em postes de luz, novamente um lindo vôo de um casal no céu e me vem a cabeça uma música. "Detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes para esquecer", cantava Roberto Carlos e observo esses detalhes que fazem o meu caminhar.
Mas prestamos realmente atenção nos detalhes ou andamos pela vida pisando neles, correndo em busca de uma medalha final. Olhando ao redor percebo eu e as pessoas correndo, sempre precisando, sem tempo para olhar, parar, conversar, perceber, sentir. Vamos correndo não sei em busca do que, para chegar onde, para obter, para ser, principalmente para ter.
Nessa corrida, vamos perdendo os detalhes, deixando para depois, para algum dia. Não percebemos o sol nascer e nem morrer. Não percebemos o vento passar e contar. Não perbemos o tempo andar e levar.
Ontem choveu e molhou o chão. As folhas cairam na calçada. Um pássaro morreu no mar. Alguém jogou uma garrafa na praia. Hoje o sol nasceu varrendo tudo, levando o ontem para um lugar que não volta mais. Detalhes tão pequenos que fazem a longa estrada.....

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vida de pescador

Pelo terceiro dia seguido vejo o sol nascer atrás das montanhas. O espetáculo é lindo! Quantas outras vezes isso aconteceu e eu nem percebi? Onde estava com a minha cabeça? Passamos pela vida com espetáculos acontecendo ao nosso redor e nem percebemos. Acho que por isso estamos todos sempre tão insatisfeitos.
Uma escritora falou que sonho de rico é vida de pescador. Deitar na rede e olhar o mar. Então fiquei observando as pessoas andando pela praia e percebi que temos muitos requisitos para realizar esse sonho. Não pode ser qualquer rede, talvez uma rede feita na Bahia ou então por algum estilista famoso. Depois essa rede não pode ser colocada em qualquer gancho. Uma linda varanda ao pé do morro ou de frente para o mar, sem nada para atrapalhar a vista que deve ser total do mar. Não podemos também deitar com qualquer roupa. Talvez uma roupa esportiva de alguma marca famosa, acompanhada do tênis ideal para caminhada ou corrida. Afinal antes de deitar na rede uma boa caminhada é necessária. Claro que com a roupa e calçados certos.
Os cabelos são um item separado. Como ficam rebeldes na praia. Talvez o melhor creme, com o melhor shampoo e visitas ao cabeleireiro mais frequentes possam dar aquele cabelo que anda ao vento, brilhando como raios solares.
Com todos os requisitos preenchidos podemos finalmente deitar na rede e viver como pescadores. Pegar peixe nem pensar. Só queremos a rede olhando para o mar e então poderemos relaxar e apreciar todos os espetáculos da natureza.
Ah! Esqueci do laptop. Sem ele o visual não estará completo.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Podemos mudar?

Andava na praia e procurava aquela que seria minha conchinha do dia. Fui olhando o sol fazendo luzes na água do mar e pensei se podemos realmente mudar? Lembrei de pessoas que percebi mudando ultimamente. E pensei que parece que ficamos mais ricos como pessoas quando revemos posições, quando fazemos coisas diferentes do modo como estamos acostumados a fazer.
Achei que esse assunto seria a minha conchinha, mas no meu caminho surgiu uma tartaruga. Vim andando e percebi uma enorme tartaruga. Pensei que ela devia estar botando ovos, como eu já tinha visto outra fazer, mas não. Aquela fez sua última viagem. Aquele era seu porto final.
Tartarugas vivem muitos anos e então fiquei imaginando por quais mares ela passou. Então ela me fez pensar em tempo e em morte. Pensamos que temos muito tempo para fazer o que queremos fazer e vamos vivendo fazendo o que não queremos fazer. Deixamos para outro dia dizer o quanto gostamos de alguém, talvez em um momento melhor.
Eu vi uma entrevista com um homem que está morrendo. Ele até escreveu um livro sobre isso. Ele sabe que vai morrer, então está fazendo tudo o que é importante para ele. Não há tempo para esperar. Mas todos vamos morrer, pode ser antes dele até. Então todos não temos muito tempo. Por que achamos que temos?
Fiquei pensando sobre isso e isso se juntou com o primeiro assunto sobre mudanças. Talvez essa seja a primeira mudança que preciso fazer. Deixar de deixar para depois o que eu quero fazer.
Quando eu chegar no meu porto final quero ser com a tartaruga e já ter andado por muitos mares, ter vivido muitas histórias. E você?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Catando conchinhas

"Escrever é catar conchinhas", disse o escritor Rubens Alves. Não o conheço pessoalmente, mas o considero amigo, porque suas palavras me encantam. Deixei de catar conchinhas e comecei a procurar arcas de tesouros. Conheci a depressão, a insatisfação e a tristeza.
Voltei a catar minhas conchinhas e minha alma agradecida está alegre. Cada conchinha contém uma história e encerra em si um tesouro. Hoje peguei minha primeira, aquela que chamou a atenção de meus olhos. Era branca com um enorme buraco no meio e uma mancha marrom, também enorme. Pensei nela como uma pessoa com muitos anos de vida, carregando na sua face as feridas que o viver trouxe. Percebi uma pessoa única, diferente de todas as outras, nem melhor, nem pior. Apenas uma pessoa construindo a sua história. Talvez tenha amado, talvez tenha sido correspondida. Talvez não. Talvez tenha tido sonhos realizados. Talvez não. Não posso saber, ninguém contou a sua história, porque afinal era apenas uma pessoa, uma conchinha. Não era um tesouro.
A minha conchinha está aqui ainda. Ela ainda tem uma história para continuar a viver. Vou devolver ela para o mar, depois que ela me contar a sua história, que depois divido com você. Quero conhecer outras conchinhas e também contar as suas histórias. Espero que você divida suas conchinhas comigo.